Chá com Letras Online: Brumas -LEITURAS DE MARIA JOSÉ AREAL


LEITURAS DE MARIA JOSÉ AREAL

248.º ENCONTRO


Brumas
Nasci debaixo deste céu de nevoeiro.
O rio é o responsável deste manto branco
Com que se cobre
E se deixa acocorar.
Sei que não sabe desta minha rejeição.
E se sabe, tanto lhe dá.
Importa dormir sossegado pela manhã,
Importa agachar-se na alcofa
Logo que o sol se vai.
Mas eu preciso olhar as árvores
Quando o dia se levanta
E saber da cor do pôr do sol
Nesse seu deslizar escorregadio
Até ao lado de lá.
E é surpreendente a minha comoção.
Sempre me espanto, como se olhasse
À minha volta pela primeira vez.
Espero, sempre espero ansiosamente
E sem vagar, pela luz do sol
A coberto do aconchego de um céu azul,
Surpreendentemente azul.
Ainda não soube vestir as palavras do poeta
Que ama o nevoeiro como passagem,
Para o sonho, que sempre está para lá da linha
Fina, ténue, quase impercetível
A que chamamos utopia.
Talvez, um dia, amado poeta.
Um dia!
(inédito) Maria José Areal, Dezembro de 2024



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