LEITURAS DE URBANO TAVARES RODRIGUES II
174.º ENCONTRO
1923-2013 Centenário de nascimento
Selecção de Maria José Areal
Era tudo escuro à minha volta
e o escuro das paredes ia-se tornando verde
mas de vez em quando eu saía
do estreito curro
e ficava a olhar a neve
sobre as igrejas de Praga
romano-gótico e barrocas
o mar azul das Caraíbas as flores
no Malecón aquela imensidão de gente
na Praça da Revolução
uma greve de tipógrafos em Paris
e eu solidário a fotografá-la
Movia-me muito levemente
Por dentro desses sonhos sonhados
e vividos
agitações na Catalunha estrondos
de explosões nas picadas de Angola
e do Vietname
Ali está e volta a chamar-me
nas ondas secretas da noite
uma parte de mim enquanto a outra
quase apodrece e espera espera sempre
por um sinal concreto de mudança.
1963 (reformado)
Urbano Tavares Rodrigues, Poesia- HORAS DE VIDRO - “Curro” N.º 1,
págs. 27 /28 – 2010, Publicações Dom Quixote, Lda.
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