Chá com Letras Online: OS PASCOAES DE AMARANTE -LEITURAS DE MIGUEL SOUSA TAVARES XXX



LEITURAS DE MIGUEL SOUSA TAVARES XXX
160.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal


OS PASCOAES DE AMARANTE
Ao domingo, a família, dispersa pelas quintas encostadas nas fraldas do Marão ou pelas casas da vila, encontrava-se na missa do meio-dia na igreja de S. Gonçalo, padroeiro de Amarante. À uma menos um quarto, *ite, missa* *est*, saíam cá para fora, para a praça sobranceira ao rio, que a igreja dominava imponente, apenas disputando os olhares com a magnifica e estreita ponte situada ao fundo da praça e onde, em 1809, as tropas sediadas em Amarante resistiram onze heróicos dias ao exército de Soult, antes que este tomasse a vila e lhe pegasse fogo.
(...)
Era, claramente, uma vila próspera e contida, organizada nos seus ócios e riquezas, com uma paisagem ordenada em antigas e seguras matrizes prediais, com raras e desprezadas fortunas novas, do tempo da guerra e do volfrâmio. Só fora dos seus limites urbanos a estrita organização da vila e dos seus hábitos começava a perder o sentido, à medida que se entrava pelas quintas adentro e em cada uma delas estranhos senhores as habitavam e estranhos hábitos as regiam. Este era, já no perímetro dessa montanha mágica e assombrada do Marão, o território favorito dos Pascoaes de Amarante.
*Miguel Sousa Tavares – Não te deixarei morrer David Crockett – “Os Pascoaes de Amarante”, páginas 187/191, 2016, Edição Clube do Autor, S. A.*




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