LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO XI
92.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal
25 DE FEVEREIRO
Que é, ou quem é Portugal? Uma Cultura? Uma História? Um Adormecido Inquieto? Por que é que, quando se fala de Portugal, sempre hão-de ser invocadas a sua história e a sua cultura? Se estivermos a falar de outro país, a história e a cultura dele só serão chamadas à conversa se forem esses os temas em debate. Talvez que esta necessidade de apelarmos constantemente para a história e para a cultura portuguesas provenha de um certo carácter inconclusivo (não no sentido que sempre será o de um qualquer processo continuo, mas no sentido de uma permanente “suspensão”) que ambas parecem apresentar. Da História de Portugal sempre nos dá vontade de perguntar: porquê? Da Cultura portuguesa: para quê? De Portugal, ele próprio: para quando? Ou: até quando? Se estas interrogações não são gratuitas, se, pelo contrário, exprimem, como creio, um sentimento de perplexidade nacional, então os nossos problemas são muito sérios. Como explicar esta “dormência”, que é também “inquietude” sem cair em destrutivos negativismos? Como evitar que a “antiga e gloriosa história” continue a servir de derradeira e estéril compensação de todas as nossas frustrações? Como resistir à tentação falaz de sobrevalorizar o que há alguns anos se acreditou ser “uma certa revolução cultural” fazendo dela um álibi ou uma cortina de fumo? Ou chegámos já tão baixo que, depois de termos desistido de explicar-nos, nem nos damos ao trabalho de justificar-nos?
JOSÉ SARAMAGO – Cadernos de Lanzarote – diário III, 25 de Fevereiro -1996, págs. 53/54, Editorial Caminho.
Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras na página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira
92.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal
25 DE FEVEREIRO
Que é, ou quem é Portugal? Uma Cultura? Uma História? Um Adormecido Inquieto? Por que é que, quando se fala de Portugal, sempre hão-de ser invocadas a sua história e a sua cultura? Se estivermos a falar de outro país, a história e a cultura dele só serão chamadas à conversa se forem esses os temas em debate. Talvez que esta necessidade de apelarmos constantemente para a história e para a cultura portuguesas provenha de um certo carácter inconclusivo (não no sentido que sempre será o de um qualquer processo continuo, mas no sentido de uma permanente “suspensão”) que ambas parecem apresentar. Da História de Portugal sempre nos dá vontade de perguntar: porquê? Da Cultura portuguesa: para quê? De Portugal, ele próprio: para quando? Ou: até quando? Se estas interrogações não são gratuitas, se, pelo contrário, exprimem, como creio, um sentimento de perplexidade nacional, então os nossos problemas são muito sérios. Como explicar esta “dormência”, que é também “inquietude” sem cair em destrutivos negativismos? Como evitar que a “antiga e gloriosa história” continue a servir de derradeira e estéril compensação de todas as nossas frustrações? Como resistir à tentação falaz de sobrevalorizar o que há alguns anos se acreditou ser “uma certa revolução cultural” fazendo dela um álibi ou uma cortina de fumo? Ou chegámos já tão baixo que, depois de termos desistido de explicar-nos, nem nos damos ao trabalho de justificar-nos?
JOSÉ SARAMAGO – Cadernos de Lanzarote – diário III, 25 de Fevereiro -1996, págs. 53/54, Editorial Caminho.
Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras na página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira
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