Chá com Letras Online: Viajar pela obra de Camilo Castelo Branco - LEITURAS DE CAMILO CASTELO BRANCO II



LEITURAS DE CAMILO CASTELO BRANCO II
57.º ENCONTRO EM TEMPO DE PANDEMIA
Uma seleção de textos proposta por Maria José Areal:

Porque se aproxima a sessão online dedicada a Camilo de Castelo Branco - Comunidade de Leitores RIBAM, a realizar no dia 25 de junho, pelas 15h, propomos mais uma abordagem à obra deste autor.


Viajar pela obra de Camilo Castelo Branco
, em pequeninas paragens e em percursos limitados da sua obra vastíssima, é um desafio que tecemos com enorme contentamento. Sirva para que do escritor nos aproximemos e o façamos levitar.
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“Era pescador e caçador António de Queirós e Meneses. Viu o nome da filha do lavrador de Santo Aleixo. As serras têm sombras de infinito o coração aí é maior que das dimensões do peito. O homem, como se vê só, no cabeço de um fraguedo, dá-se a grandeza extraordinária, mede-se pelo comprimento de horizonte a horizonte. Se o amor lhe rutilou aí como um relâmpago que fulgura numa vasta cordilheira de montes, é um amor olímpico, imenso, …"
in Maria Moisés (novela)


“A gente das cidades pergunta-me em que país do mundo florescem, em Dezembro, bouças e montados.
Respondo que é em Portugal, no perpétuo jardim do mundo, no Minho, onde os inventores de deuses teriam ideado as suas teogonias, se não existisse a Grécia. No Minho, ao menos, se buscariam águas límpidas para Castálias e Hipocrenes. No Minho, a Cítara para a mãe dos amores. Nos arvoredos desta região de sonhos, de poemas, e rumores de conversarem espíritos, é que os sátiros, os dríades e os silvanos sairiam a cardumes dos troncos e regatos: que tudo aqui parece estar dizendo que a natureza tem segredos defesos ao vulgo, e como a entreabrirem-se à fantasia dos poetas… "
in Amor de Salvação


Por fim vinha o café. As fatias eram torradas ali, no fogareiro. Sua majestade barrava-as de manteiga nacional – preferia a manteiga do seu país, como a vitela, e o lombo de porco no salpicão português, e o pé de porco nas tripas também portuguesas – tudo do seu país. Que rei patriota! – mediava o abade de Priscos, bispo eleito de Coimbra, esmoncando-se e aparando as lágrimas ternas no Alcobaça.
No fim do copioso almoço, el-rei fumava charutos espanhóis, de contrabando; desabotoava o colete, dava arrotos, …
in A Brasileira de Prazins


Meus amigos, decerto não sabem o que é caçar coelhos na neve?
Não admira.
Imaginem-se em qualquer aldeia, nas vizinhanças do Marão. Olhem em redor, e contemplem o quadro que os viajantes na Suíça lhes descrevem todos os dias, suposto que nunca saíssem da sua terra.
“A primeira impressão que recebem é de assombro. Léguas em redor, nem na terra nem no céu se descobre uma crista de rochedo, a frança de uma árvore, a dobra de uma nuvem, que não seja branca, alvíssima, desde o horizonte a outro horizonte… “
in Cenas contemporâneas


“Aqui não se calculam as caretas da senhora Brázia! O resto do auditório pregava os olhos lá em baixo no lugar dos moinhos, e estava capaz de afirmar que via as pegadas da porca! A velha, cheia de crença, e árbitra de terrores, via naquelas viagens apopléticas o efeito da sua palavra profética e fulminante.
Estas e outras cenas convenceram-na da superioridade do seu espírito entre as outras velhas. Consultada para o desmancho de vários sortilégios, e para levantar a espinhela e cortar as lombrigas, tudo isto eram critérios de sobra para a sua reputação de mulher de virtude…
in Anátema

Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras na página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira.

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