No dia 3 de janeiro, do ano de 1932, Miguel Torga dá início a uma certa “peregrinação” de si, naquilo a que comummente apelidamos de Diário.
Fá-lo no seu tempo de vida, com algumas “clareiras” a permeio, deixando-nos na forma de poema ou de prosa, denuncias do tempo nos tempos, de alegrias, dores e cansaços de si e da própria humanidade.
Diários publicados em 16 Volumes, aquilo que me parece ser um retrato de si para si e para os outros, na forma mais inteira, precisa e preciosa, cuidando de uma forma estremada, a sua língua, - a língua Portuguesa.
Assim, damos início a uma proposta/programa da Biblioteca Municipal, que pretende ser uma janela aberta nestes tempos de maior confinação, dentro de portas, por via do Covid 19, com o primeiro texto poético, que é, simultaneamente o seu primeiro Diário formal.
Acreditando, que esta poderá ser uma via profícua e promissora, - se a ela aderirem -, como forma de atiçar o engenho e urdir a arte na deambulação” pela leitura dos nossos autores, que neste dia primeiro vos é ofertado, Miguel Torga.
Coimbra, 3 de janeiro de 1932
SANTO-E-SENHA
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.
Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.
Miguel Torga - Diário I, pág. 9, 4.ª Edição Revista, Coimbra/1957
Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras ná página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira.
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