As TIC na Biblioteca "O Pirilampo Sem Luz"

“O Pirilampo sem Luz”
(De Margarida Fonseca Santos)

A noite começava a cair, as flores preparavam-se para fechar as suas pétalas e os pirilampos iam aparecendo aos poucos. O pirilampo Osório esperava ansiosamente pelo seu amigo Acácio pois tinham combinado ir até à fonte juntos. Mas o Acácio tardava e o Osório foi esvoaçando perto dos malmequeres para não arrefecer, pois as noites já estavam bem frias.
Por fim, lá ouviu a voz do amigo, ao longe:
— Osório! Desculpa o atraso! Estive a espreitar para a casa do carvoeiro e...
Pum! Que grande choque! Os dois pirilampos foram um contra o outro com bastante velocidade!
— Bolas! Agora já não sabem aterrar sem nos acordar? — gemeu o malmequer onde eles tinham caído.
Os dois pirilampos levantaram-se, endireitaram as asas, esticaram as patas com cuidado, parecia que nenhum estava magoado. O malmequer é que estava bastante torcido.
— Que foi que te deu? — perguntou o Acácio. — Então não me viste a voar na tua direcção?
— Não... não vi — respondeu o Osório. E olhando melhor para o seu amigo soltou um grito: — Tu não tens luz!
— O quê?! Que brincadeira de tão mau gosto! — resmungou o Acácio.
— E se fossem discutir para um tronco em vez de me estarem sempre a acordar? — voltou a queixar-se o malmequer.
— Eu não estou a mentir! Olha bem para o teu corpo: não tem luz...
Osório tinha razão: não havia luz, nem forte, nem fraca.
O malmequer endireitou-se para ver melhor. De facto, aquele pirilampo estava apagado. Deixou que os dois amigos se sentassem nas suas pétalas e comentou:
— Tal coisa nunca tinha visto...
Acácio estava mudo. Não queria acreditar! Mas porquê?
— Ouve, Acácio, de onde vens? Será que alguém te fez mal?
— Ninguém me fez nada... — disse ele com um ar desgraçado.
— Antes de vir ter contigo, estive na casa do carvoeiro, a ver o que ele estava a fazer... mais nada...
— Então deve ser isso — disse o malmequer. — Estás cheio de pó de carvão e a luz não passa...
— Deve ser isso, deve — animou-se o Osório. — Vamos ter com o sábio Onofre, ele deve saber o que fazer.
Deram os dois as patas, para não haver mais choques com o Acácio, e voaram em direcção à trepadeira onde vivia o pirilampo Onofre, o mais velho de todos os pirilampos e também o mais sábio.
Depois de explicada a situação, Onofre ficou calado. Parecia pensar, olhava apreensivo para os dois pirilampos...
— Receio não te poder ajudar — disse ele por fim. — A única maneira de tirar esse carvão do teu corpo seria com bastante água, e os pirilampos não se podem molhar, como vocês sabem.
— Talvez raspando com jeitinho... — disse o Acácio, com pouca esperança.
— Não te aconselho a fazeres isso. A luz sairia com o carvão — e olhando com um ar preocupado para os dois, Onofre disse: — O melhor é ir ter com a fada Rosalina, não vejo outra solução...
Qualquer um dos três sabia o que isso queria dizer: uma longa viagem, cheia de perigos para insectos pequenos como eles. Mas não havia outra hipótese. Osório decidiu rapidamente:
— A caminho! Vamos ter com a fada Rosalina, e é já!
Acácio estava contente de ter um amigo como ele, mas tinha realmente muito medo da viagem. Onofre disse-lhes com um ar sábio:
— Não vão sozinhos. Seria disparate. Vou pedir à Idalina que vos acompanhe e que vos proteja.
Idalina era uma grande e bonita lagarta, muito rápida no seu andar e sempre muito atenta. Era ela quem avisava os pirilampos quando algum bicho se aproximava para os comer, como as rãs e os camaleões. Tinha sempre vivido perto de Onofre, e era uma amiga muito fiel.
— Vou ajudá-los com o maior prazer — disse a Idalina, ondulando o seu bonito corpo verde-clarinho. — Não podemos ir muito depressa, eu não ando assim tão depressa...
— O melhor — disse Onofre — é caminharem os três a par. Há menos perigos no chão do que a voar e assim não há o risco de o Acácio se perder na escuridão.
E lá foram. A viagem ia ser longa e perigosa. A fada Rosalina vivia do outro lado do bosque, numa casinha cor-de-violeta, no alto de um grande castanheiro.
Pelo caminho, iam falando para passar o tempo. A Idalina sabia montes de histórias de aventuras de pirilampos, de lagartas, de tudo! Mas ao entrar numa zona mais sombria, onde o luar passava com dificuldade pelo meio das folhas, fez-lhes sinal para se calarem.
— Estamos no campo dos camaleões — disse ela muito baixinho.
— Se nos virem, não temos qualquer hipótese de passar para o outro lado. E do outro lado mora a Rosalina.
Ficaram os três em silêncio, caminhando muito devagar e sem fazer barulho. O corpo da Idalina encobria um pouco os pirilampos, mas não estavam nada seguros.
Ao passar perto de uma árvore que estava caída no chão, ouviram uma voz ao de leve:
— Tenham cuidado! O camaleão Raimundo está mesmo aqui perto. Não se cheguem muito aos troncos...
Era uma simpática aranha que estava a acabar a sua nova teia naquele tronco velho. Agradeceram em voz baixa, e foram caminhando sem fazer ruído.
De repente, ele aí estava! O pior de todos os camaleões, Raimundo de seu nome, mesmo à frente dos três que com o medo não se moviam.
— Julgavam que passavam por aqui sem eu vos sentir? — perguntou Raimundo com uma voz horrível. — Até que já vão sendo horas de jantar...
Nisto, ouviu-se uma grande agitação na árvore. Simão apareceu com ar de quem não está a gostar da brincadeira.
— Julgas que vais ficar com os pirilampos só para ti? — perguntou o camaleão Simão, que devia ser sem dúvida o mais rabugento de todos. — Vamos lá a ver quem é que ganha este jantar.
— E de um salto, desceu até ao pé de Raimundo, que se virou para
ele como quem vai começar a lutar.
— Psst! Psst!
Idalina, Osório e Acácio olharam para trás de si, convencidos de que seria com certeza outro camaleão. Mas não! Era o Norberto, o velho mocho do bosque que vinha em seu auxílio.
— Não façam barulho... Subam para as minhas costas e agarrem-se às minhas penas com toda a força que tiverem...
Nem foi preciso repetir: em menos de um segundo já lá estavam os três, e para ter a certeza de que estavam bem seguros, Idalina enrolou os pirilampos no seu corpo.
— Segurem-se bem! Cá vamos! — disse o Norberto, levantando voo a toda a velocidade.
Vocês não podem imaginar a cara com que ficaram o Raimundo e o Simão: só faltava caírem para o lado de raiva e ao mesmo tempo de espanto!
Já lá no alto, o Norberto abrandou a velocidade e disse:
— Parece que desta já escaparam! Que vêm vocês fazer aqui,
num sítio onde em cada ramo há um camaleão? Devem ser doidos!
Foi Idalina quem explicou ao mocho toda a situação. Norberto ficou preocupado com o pequeno pirilampo: era uma pena se ele deixasse de poder ter luz...
— Eu vou-vos levar à Rosalina e depois quero que venham comigo
para a vossa casa. Isto aqui não é sítio para vocês andarem.
— Não sei como agradecer a tua ajuda — disse Acácio. — Se não nos tivesses salvo, não sei o que seria de nós.
— Eu sei! — disse Norberto a rir. — Eram um jantar de príncipe para aqueles dois!
E lá chegaram a casa da Rosalina. O mocho pousou ao de leve no ramo, deixando sair os seus amigos com todo o cuidado, pois o castanheiro era altíssimo.
Rosalina apareceu à porta, com um grande sorriso.
— Meu bom Norberto! Que se passa com estes teus amigos?
Norberto lá explicou que o Acácio estava com o corpo cheio de carvão e que não tinha luz, que o outro pirilampo era o Osório, seu amigo, e a lagarta era a Idalina, que tinha sido mandada para os proteger durante a viagem.
— Bem, eu não fiz lá grande coisa. Por pouco que os camaleões nos comiam aos três! — disse tristemente a lagarta.
— Aí é que te enganas: se não fosse o teu corpo verde-clarinho a brilhar na escuridão, eu não teria visto que vocês estavam em apuros.
— Bom — disse a Rosalina —, vamos entrar. Vamos ver o que se pode fazer.
A casinha era linda! Idalina ficou à porta, pois o resto do corpo não cabia, e o Norberto aproveitou para descansar um pouco.
Rosalina estava com a sua varinha de condão na mão e pensava: que fazer? Era preciso limpar o corpo do pirilampo sem estragar as duas manchinhas que dão luz. Olhou para os seus frasquinhos e pegou num azul-turquesa. Não, aquele não. Talvez o amarelo... Não, também não. O verde brilhante! Esse sim!
Com muito cuidado, pegou num paninho muito macio, deitou umas gotas do líquido no pano e começou a limpar o pirilampo muito devagarinho. O pano não tardou a ficar todo negro, pois ele estava todo coberto de carvão. Mas o Acácio estava cheio de sorte: a luz estava a voltar!
— Viva! — gritou o Osório, acordando o mocho que por pouco não se desequilibrou no ramo. — Estás lindo outra vez! Até parece que tens mais luz agora do que antes!
— E tem! — explicou a Rosalina. — Este líquido aviva as vossas cores. Chega-te cá para eu te pôr um pouco também a ti.
Os dois pirilampos não queriam acreditar: nunca tinham tido uma luz tão bonita! Rosalina virou-se para Idalina, que sorria a olhar para os pirilampos, e disse:
— Vê-te ao espelho — e estendeu-lhe um pequenino espelho de fada. Idalina tinha uma linda coroa de estrelas brilhantes na cabeça e ficava-lhe tão bem...
— Que linda coroa!
— Assim, os teus amigos vão sempre saber onde estás e serás a lagarta mais bonita do bosque! — disse a fada.
Ao fazerem as despedidas e agradecimentos, os pirilampos estavam com pena de ter que partir.
— Aqui não é lugar seguro para vocês. Voltem para a vossa casa.
O Norberto leva-vos e, qualquer dia, vai-vos buscar para tomarmos um chá, pode ser?
Claro que Norberto estava de acordo. Ele e a Rosalina eram amigos há muitos anos e gostava sempre de uma chazada com os seus amigos.
Todos bem instalados nas costas do mocho, lá partiram de regresso a casa. A chegada deles era esperada por todos os pirilampos, especialmente pelo sábio Onofre, que estava desejoso de os ver de volta sãos e salvos.
Houve festa até ser dia. Idalina estava linda com a sua coroa de estrelinhas e os pirilampos dançavam no ar fazendo bonitos desenhos de luz.
Quando o sol chegou, todos se recolheram: era a vez de as flores se abrirem, de as abelhas trabalharem, de os passarinhos acordarem.
Mas houve um malmequer que não se abriu. Pudera, passara toda a noite na festa dos pirilampos, tinha agora que dormir. Além disso, ainda não tinha acabado de endireitar as suas pétalas, tão torcidas que haviam ficado do choque...
Margarida Pereira - 8 anos


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