LEITURAS DE IRENE LISBOA XVI
199.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal
Iriam a Bucelas, perfeitamente, pela serra!
Uma era do sítio e a outra de Lisboa. Não tinham o que se chamar intimidade, mas faziam-se boa companhia.
O campo dava a Lisboa aquele gosto, aquele regalo que costuma geralmente dar aos citadinos: surpresas, uma certa beatitude, o despertar da imaginação…
No campo há sempre patentes as coisas naturais e de fabrico: o chão verde, o sol, a chuva, a água corrente e as nuvens. Até a gente que passa ou que trabalha nos parece mais espontânea e mais simples!
Com isto e pouco mais se amanhã uma paisagem, de recreio, se passam umas boas férias rurais.
Esta aldeia era de lavadeiras, construída em socalcos entre dois ribeiros. No Verão dispensavam-se as suas melhores casas à gente de Lisboa. Mas os forasteiros, quer chegassem cedo quer chegassem tarde, de tão costumeiros que eram não produziam a mínima impressão no indígena. E assim esta Lisboeta temporã, arribada na Páscoa, corria os campos à sua vontade. A ela é que as novidades da terra, toda aquela rebentação primaveril enchiam de exaltação.
Quando entrou pela primeira vez no quarto caiado que lhe alugou a senhora Pintabela sentiu-se tranquila. Aquilo não era mundo, mas repousava-a, não afligia. As paredes eram tortas e grossas com um janelinho quadrangular lá em cima… talvez que se não desse ali muito mal.
IRENE LISBOA, “esta cidade!”, excerto de - O amante -pág. 176 – VOLUME V - OBRAS DE IRENE LISBOA, 1995, Organização e Prefácio de Paula Morão, 2.ª edição EDITORIAL PRESENÇA
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