LEITURAS DE MIGUEL SOUSA TAVARES XVIII
146.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal
Pela Estrada Real do ouro, até o Tiradentes. Um longo esticão, com paragem em Congonhas, para ver as estátuas do Aleijadinho e lembrar-me de um postal que a minha mãe me mandou daqui, quase quarenta anos atrás.
Tiradentes é uma pequena aldeia histórica, uma espécie de Monsaraz no meio da serra, e fui ficar à fabulosa Estalagem/Fazenda Paolucci, minuciosamente recuperada pela proprietária, Dona Raquel, tão bonita como simpática e prestável. Dei uma volta pela vila, tropeçando sem parar na sua terrível calçada portuguesa do século XVII, e voltei para a estalagem, onde, na ausência de outros hóspedes à vista, a Dona Raquel me deixou instalar e fumar à vontade nos salões desertos, para, à luz de velas, pois não havia electricidade, terminar mais uma revisão do livro e fazê-la seguir de imediato para Lisboa.
Gostei tanto do local e do ambiente que resolvi deixar-me ficar até depois do almoço do dia seguinte, para experimentar o célebre leitão mineiro – uma desilusão, ao contrário do frango ora pró nobis e de uma fabulosa couve mineira experimentada na véspera. Ficou a promessa de voltar com tempo e para escrever, pagando só o consumo e com a dormida por conta da casa, Voltearei? Voltarei, sim.
Miguel Sousa Tavares, NÃO SE ENCONTRA O QUE SE PROCURA – “1 de Junho”, págs. 157/158, 2001, edição, Clube do Autor
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