Chá com Letras Online: “É um livro de boa fé” - LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO XVIII



LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO XVIII
107º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal


“É um livro de boa fé”

É um livro de boa-fé, disse Montaigne.
Ninguém sabe o que esta frase quer dizer, declara o
professor, enxugando os olhos, e chama um
contínuo para que lhe traga um copo de água.
Entretanto o aluno mais novo saiu pela janela e teve
todas as revelações do Buda.
Mas quando chegou debaixo do salgueiro estava uma
mulher deitada e nua, que repousava a cabeça num
livro de páginas brancas.
Estava também o infinito, era azul depois de um
caminho vermelho, e branco depois de uma cortina
dourada.
Então o professor disse que faltava um aluno e que
não valia a pena continuar a aula.
Desde aí o salgueiro ficou sendo um lugar de
peregrinação.
Mas só eleitos capazes de sair voando de uma aula
poderiam ver os dois corpos deitados, e até hoje
ninguém os viu, embora lá estejam movendo-se
infinitamente.
Por isso a história começa sem começar e acaba sem
acabar.
Como qualquer coisa que se parecesse muito com o
infinito.
José Saramago, PROVAVELMENTE ALEGRIA, “É um livro de boa-fé”. Pág. 53, 3.ª edição – Editorial Caminho – impresso em maio de 1987




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