LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO VII
87.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal
19 de Janeiro - Diário VI
Chega-me aqui a notícia da morte de Maria Judite de Carvalho. Nunca li uma página sua em que não pensasse na pessoa que a tinha escrito. E creio que ela o queria assim. Que o leitor compreendesse que do outro lado não havia estado apenas uma escritora, mas sim alguém que, conhecendo como raros a arte do conto e das íntimas ressonâncias de cada palavra, usava essa arte e esse sentido musical para dizer quem era. Com obstinação, mas também com a simplicidade e discreta reserva. Como Irene Lisboa, ao lado de quem a história da Literatura lhe guardará lugar, o alcance da sua voz era o espaço do coração. O ser que foi Maria Judite de Carvalho já não pertence ao mundo dos viventes, mas podemos encontrar nos seus livros tudo o que ela quis que da sua pessoa se soubesse.
JOSÉ SARAMAGO – Último Caderno de Lanzarote – O diário do ano Nobel, 19 de janeiro, págs. 35, 1.ª edição- 2018, Fundação José Saramago e Porto Editora.
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