Chá com Letras - LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO III



LEITURAS DE JOSÉ SARAMAGO III
83.º ENCONTRO
Selecção de Maria José Areal


1 DE DEZEMBRO

Para o Jornal de Letras, a pedido de Leonor Nunes, umas quantas palavras sobre a morte do Lopes- Graça. Aqui retenho estas: “Morreu o querido Lopes Graça, o amigo do coração, o camarada fidelíssimo e leal. Tudo isso acabou. Sim, já sei, a recordação, a memória, a saudade, a lembrança. Essas coisas duram, de facto, mas, porque duram, cansam. Um dia destes, a evocação de Lopes-Graça só causará uma leve mágoa, que disfarçaremos contando uma das mil vezes repetidas anedotas. Buscaremos então o Graça onde ele verdadeiramente sempre esteve: nos seus livros, de uma linguagem puríssima que poderia servir de lição a escritores principiando por este; nos seus discos, mas também nas salas de concerto, que não se lhe abriram tanto quanto deveriam enquanto viveu. O homem acabou, não podemos pedir-lhe mais nada, mas a obra aí ficou, à espera do que sejamos capazes de pedir a nós próprios. O justo juízo vem sempre depois, quase sempre tarde de mais. Talvez seja essa a causa do amargor de boca que sinto ao terminar estas linhas.”
José Saramago, CADERNOS DE LANZAROTE - diário II- 1 de Dezembro de 1995, págs. 242, Editorial Caminho.






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