3.º Encontro com Miguel Torga, nos seus Diários.
Selecionei dois textos, um em verso e outro em prosa para este nosso 3.º Encontro com Torga. Deste modo temos a oportunidade de continuar a sua poética, e tecer uma pequenina abordagem aos inúmeros textos em prosa, que encontramos em cada Diário seu.
A minha enorme dificuldade reside na escolha Tudo me parece de cabal importância, e a opção pode não espelhar o melhor que vos queria ofertar. Optar é fazer uma escolha. E tem que ser feita.
Miguel Torga dá início a seu Diário II com o poema: CORREIO.
Este poema, assume a delicadeza e uma simplicidade tocante. Todavia, o que nos diz é de uma profundíssima pertinência na sua sabedoria, e sobretudo, na ternura que dele irradia.
No 2.º texto algo fica no ar. É Primavera (porta de entrada para a mudança). A natureza cumpre o prometido no seu natural e esperado movimento, ritmo e cor… e o Homem?
Texto e selecção de Maria José Areal
DIÁRIO II:
Coimbra, 3 de Setembro de 1941
CORREIO
Carta de minha Mãe-
Quando já nenhum Proust sabe mais enredos,
A sua letra vem
A tremer-lhe nos dedos.
- “Filho”…
E o que a seguir se lê
É de tal pureza e de um tal brilho,
Que até a minha escuridão se vê.
Miguel Torga - Diário II, pág. 9, 4.ª Edição Revista, Coimbra/1957
Coimbra, 6 de Março de 1943 – há momentos nestes primeiros ensaios da Primavera em que a revelação dos íntimos segredos da vida parece estar por um tris. Ou porque um pássaro acabou por encontrar o sítio para fazer o ninho, ou porque uma flor conseguiu desabrochar, ou por qualquer outra razão que não se vê, as árvores param de mexer, as aves param de cantar, as águas param de correr, e um grande silêncio de expectativa paira no ambiente. A natureza dá a impressão de que vai comungar.
Mas os segundos passam, a tensão exaspera-se, começa a bulir uma folha, a trinar um melro, a murmurar uma fonte, e nada acontece.
Miguel Torga - Diário II, pág. 135, 4.ª Edição Revista, Coimbra/1957
#fiqueemcasa #ficaemcasa
Imagem de Miguel Torga com a mãe, Maria da Conceição de Barros, in: http://www.espacomigueltorga.pt/files/timeline/1369_1.jpg
Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras na página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira.
Selecionei dois textos, um em verso e outro em prosa para este nosso 3.º Encontro com Torga. Deste modo temos a oportunidade de continuar a sua poética, e tecer uma pequenina abordagem aos inúmeros textos em prosa, que encontramos em cada Diário seu.
A minha enorme dificuldade reside na escolha Tudo me parece de cabal importância, e a opção pode não espelhar o melhor que vos queria ofertar. Optar é fazer uma escolha. E tem que ser feita.
Miguel Torga dá início a seu Diário II com o poema: CORREIO.
Este poema, assume a delicadeza e uma simplicidade tocante. Todavia, o que nos diz é de uma profundíssima pertinência na sua sabedoria, e sobretudo, na ternura que dele irradia.
No 2.º texto algo fica no ar. É Primavera (porta de entrada para a mudança). A natureza cumpre o prometido no seu natural e esperado movimento, ritmo e cor… e o Homem?
Texto e selecção de Maria José Areal
DIÁRIO II:
Coimbra, 3 de Setembro de 1941
CORREIO
Carta de minha Mãe-
Quando já nenhum Proust sabe mais enredos,
A sua letra vem
A tremer-lhe nos dedos.
- “Filho”…
E o que a seguir se lê
É de tal pureza e de um tal brilho,
Que até a minha escuridão se vê.
Miguel Torga - Diário II, pág. 9, 4.ª Edição Revista, Coimbra/1957
Coimbra, 6 de Março de 1943 – há momentos nestes primeiros ensaios da Primavera em que a revelação dos íntimos segredos da vida parece estar por um tris. Ou porque um pássaro acabou por encontrar o sítio para fazer o ninho, ou porque uma flor conseguiu desabrochar, ou por qualquer outra razão que não se vê, as árvores param de mexer, as aves param de cantar, as águas param de correr, e um grande silêncio de expectativa paira no ambiente. A natureza dá a impressão de que vai comungar.
Mas os segundos passam, a tensão exaspera-se, começa a bulir uma folha, a trinar um melro, a murmurar uma fonte, e nada acontece.
Miguel Torga - Diário II, pág. 135, 4.ª Edição Revista, Coimbra/1957
#fiqueemcasa #ficaemcasa
Imagem de Miguel Torga com a mãe, Maria da Conceição de Barros, in: http://www.espacomigueltorga.pt/files/timeline/1369_1.jpg
Pode acompanhar e participar nas leituras publicadas semanalmente no grupo Comunidade de Leitores: Chá com Letras na página do facebook da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Cerveira.
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