6º Aniversário do Chá com Letras | Comunidade de Leitores


É sempre com muita emoção e entusiasmo que nos reunimos semanalmente para descobrir a  literatura portuguesa, que nos tem proporcionado momentos de enriquecimento literário, pessoal e colectivo, sob a competente  e sobretudo sábia orientação da professora Maria José Areal. Uma vez mais apresentamos a nossa gratidão à sua dedicação e trabalho voluntário, que tem sido oferecido ao longo destes seis anos, em benefício da melhor prestação dos serviços de leitura que a Biblioteca Municipal proporcionara à comunidade.

A leitura em grupo e a reflexão a partir dos textos literários acontece à quarta-feira, entre as 16h e as 18h, com um momento de convívio acompanhado com um chá.
Convidamos todos os que ainda não tiveram oportunidade de participar que nos visitem para conhecer a nossa comunidade de leitores.

Ontem, para uma sessão especial, surpreendemos-nos com a poesia portuguesa de António Gedeão, José Régio, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen e Maria José Areal, e descobrimos a poesia da escritora brasileira Cecília Meireles.

Com amizade e apreço pela orientadora da comunidade de leitores, Maria José Areal, autora que integra o fundo documental de escritores locais, publicamos um dos poemas do seu último livro de poesia "Há dias que não sei de mim e outros que pouco de mim sei":

A sua voz

Escutou a sua voz
Que vinha de longe.
Quase enfurecida martelava-lhe o peito,
Azucrinava-lhe a mente,
Escancarando no coração.
era quase imaterial
Vinha de longe.
Mas escutava a sua voz
Com palavras esfumadas
Acossadas e húmidas,
Nacaradas de aromas fortes
A canela, a gengibre
A noz-moscada e a café,
A aguardente e vinha quente.
Era ele como sempre foi:
Mais gente em pensamento,
Mais pensamento que acto,
Mais acto que estardalhaço.
Era como uma árvore na berma do caminho,
Como a onda que à praia chega de mansinho,
Como o pão acabado de cozer.
Continuava a escutar a sua voz
Como pássaro em cativeiro
Encurralado no seu canto
Que mesmo pintado de branco
Mascarava-lhe o sonho.
E a sua voz vinha de longe
cada vez mais embravecida
Reclamando espaço,
Suplicando libertação.
Rodou sobre si
Aconchegando a blusa solta,
Alongou o pescoço para além do horizonte,
Estirou o olhar para lá do assombro,
Arregaçou o cabelo e ...gritou!
Escuto a tua voz,
Mesmo que venha de tão longe!

(Maria José Areal)







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